Conquista de Alcácer-Ceguer

Conquista de Alcácer-Ceguer
Guerras Luso-Marroquinas

Alcácer-Ceguer vista do mar.
Data 16-18 Outubro de 1458.[1]
Local Alcácer-Ceguer, Marrocos
Desfecho Vitória portuguesa
Beligerantes
Portugal Marrocos
Comandantes
D. Afonso V Desconhecido
Forças
25,000 homens[1]
220 ou 289 navios.[1][2]
500 cavaleiros[1] Número não registado de infantaria.[1]
Baixas
Desconhecidas Desconhecidas
Campanhas coloniais portuguesas
Conflitos prolongados mostrados em negrito
Data  Região 
1415 Ceuta
1437 Marrocos
1458 Marrocos
1468 Marrocos
1471 Marrocos
1478 Guiné
1487 Marrocos
1490 Marrocos
1501–02 Índia
1502 Índia
1503 Índia
1504 Índia
1506 Índia
1507 África Oriental
1507 Hormuz
1508 Índia
1509 Índia
1510 Índia
1511 Malaca
1514 Marrocos
1515 Marrocos
1517 India
1521 China
1522 China
1523 Arábia
1526 Índia
1531 Índia
1538 Índia
1541 Mar Vermelho
1541 Mar Vermelho
1542 África Oriental
1546 Índia
1548 Arábia
1551 Arábia
1552–54 Arábia
1553 Golfo Pérsico
1558 Brasil
1559 Índia
1561 Japão
1562 Marrocos
1567 Brasil
1568 Malaca
1569 Achém
1570–75 Índia
1580–83 Oceano Atlântico
1580–89 Oceano Índico
1581 Damão
1587 Jor
1601 Java
1606 Malaca
1606 (ago) Malaca
1612 Índia
1614 Brasil
1619 Ceilão
1622 China
1622 Angola
Data  Região 
1624 Brasil
1625 Pérsia
1625 Brasil
1625 Costa do Ouro
1629 Malaca
1630 Brasil
1631 Brasil
1638-39 Índia
1671 Angola
1637 Costa do Ouro
1638 Índia
1638 Brasil
1639 Índia
1640 Brasil
1640–41 Malaca
1645 Brasil
1647 Angola
1648 Brasil
1648 Angola
1649 Brasil
1652–54 Brasil
1654 (mar) Ceilão
1654 (mai) Ceilão
1665 Angola
1670 (jun) Angola
1670 (out) Angola
1696–98 Mombaça
1710 Brasil
1711 Brasil
1729-32 Índia
1735–37 Banda Oriental
1752 Índia
1756 América do Sul
1761–63 América do Sul
1762–63 Sacramento
1768-69 Angola
1774-78 Angola
1776–77 América do Sul
1809 Guiana Francesa
1816–20 Banda Oriental
1821–23 Brasil
1846 China
1849 China
1850-62 Angola
1855-74 Angola
1890–1904 Angola
1907 Angola
1914–15 Angola
1917–18 Moçambique
1954 Índia
1961 Índia
1961–74 África
• 1961–74 Angola
• 1963–74 Guiné-Bissau
• 1964–74 Moçambique

A conquista de Alcácer-Ceguer pelos portugueses, em Marrocos à dinastia dos Merínidas, deu-se entre 23 e 24 de Outubro de 1458 por forças portuguesas sob o comando do rei Afonso V, cognominado o africano.

Contexto

Portugal capturou a cidade de Ceuta aos merínidas de Marrocos em 1415.

Quando os turcos otomanos tomaram Constantinopla em 1453, o Papa Calisto III emitiu aos reis da Europa um apelo a uma Cruzada, entregue ao rei D. Afonso V através do Bispo de Silves. O rei prometeu armar um exército contra os muçulmanos.[1] Ao enviar emissários a Nápoles e outras Cortes europeias, no entanto, D. Afonso descobriu que só ele havia correspondido ao apelo do Papa, de entre todos os monarcas europeus.[1] Depois de Calixto ter morrido a 6 de Agosto de 1458, D. Afonso decidiu atacar Tânger em Marrocos, mas o governador de Ceuta, o conde D. Sancho de Noronha, persuadiu-o a conquistar Alcácer-Ceguer.[1] Por então, Alcácer-Ceguer servia como valhacouto de piratas muçulmanos ao sultão merínida, com quem Portugal estava em guerra.[2]

A partir de 1420 os merínidas caíram sob a tutela dos oatácidas, que exerceram a regência quando Abdalaque II se tornou sultão, um ano após seu nascimento. Os oatácidas, entretanto, recusaram-se a prescindir da regência quando Abdalaque atingiu a maioridade.[3]

A reunião de homens e navios deu-se em Lagos, no Algarve. A frota portuguesa contava com 200 ou 220 navios e 25.000 ou 26.000 guerreiros, fora marinheiros e pessoal de apoio. Participaram também na expedição o príncipe D. Fernando, Duque de Viseu, o Infante D. Henrique ao comando da armada do Algarve, o Marquês de Valença D. Afonso de Bragança ao comando da armada do Porto e o Marquês de Vila Viçosa. Zarparam para Alcácer-Ceguer a 12 de Outubro de 1458.[1]

Ventos contrários empurraram a nau almiranta e parte da armada para as águas em redor de Tânger, cuja conquista o soberano cogitou, mas o Infante D. Henrique, que participara no fracassado ataque à cidade em 1437 dissuadiu-o e manteve-se o objectivo de atacar Alcácer-Ceguer.

A batalha

Os portugueses enfrentaram alguma resistência nas praias de Alcácer-Ceguer, onde a guarnição ergueu barricadas guarnecidas por besteiros e 500 cavaleiros, para impedir o desembarque dos portugueses.[1] Os marroquinos foram, no entanto, atacados com ânimo por um esquadrão comandado pelo infante D. Henrique e os muçulmanos viram-se forçados a fugir para a cidade.[1] Não conseguiram os portugueses abrir as portas da cidade mas, mais tarde, naquela noite, os portugueses usaram uma bombarda para demolir parte das muralhas.[1]

Na manhã de 18 de Outubro, os habitantes da cidade renderam-se e D. Afonso V autorizou-os a deixar a cidade, com as suas famílias e pertences.[1] Vários prisioneiros cristãos foram libertados. [1]

Rescaldo

Esboço da muralha da couraça desenhada por Diogo Boitaca em 1502.

A conquista deveu-se à superior artilharia portuguesa e à decisão do rei merínida, em Fez, Abdalaque manter o seu exército em Tânger ao ser informado da presença da frota portuguesa em Alcácer-Ceguer, pois o rei preparava um ataque a Tremecém. Ao saber que os portugueses sitiavam Alcácer-Ceguer, ele saiu a socorrê-la, porém não chegou a tempo de evitar a queda da cidade e partiu para organizar um cerco posteriormente.[1]

De Alcácer-Ceguer, Afonso V viajou até Ceuta e ali organizou uma embaixada para entregar ao sultão de Fez uma "polida carta" desafiando-o para uma batalha campal, porém os seus navios foram alvejados ao darem entrada no porto de Tânger.[1]

O sultão sitiou Alcácer-Ceguer de 13 de Novembro de 1458 a 2 de janeiro de 1459 mas não conseguiu recuperar a cidade aos portugueses.[4]

Os portugueses iniciaram de imediato obras de restauro e reforço das defesas da cidade. A mesquita foi transformada em igreja sob a invocação de Santa Maria da Misericórdia, concedida à Ordem de Cristo por iniciativa do Infante D. Henrique.

Em 1459, Abdalaque II massacrou a família oatácida, quebrando-lhes assim o seu poder. O seu reinado, no entanto, terminou brutalmente quando ele foi assassinado aquando de uma revolta em 1465.[5] Este evento marcou o fim da dinastia merínida pois Maomé ibne Ali Anrani-Jutei, líder dos xarifes, foi proclamado sultão em Fez . Este por sua vez foi deposto em 1471 por Abu Abedalá Xeique Maomé ibne Iáia, um dos dois oatácidas sobreviventes do massacre de 1459, que iniciou o reinado da dinastia oatácida .

Alcácer-Ceguer permaneceria nas mãos dos portugueses por boa parte do século seguinte. Em 1502 os portugueses começaram a construir um novo conjunto de fortificações que estendiam as muralhas da cidade até o mar, garantindo assim um local de desembarque seguro para reforços e forças expedicionárias portuguesas. A população residente da vila sob os portugueses atingiu cerca de 800 pessoas.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p Ignacio da Costa Quintella: Annaes da Marinha Portugueza, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1839, p.158-162.
  2. a b Fernando Pessanha in Irene Vaquinhas: Revista de História da Sociedade e da Cultura n.º 19, Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press, p.109.
  3. Julien, Charles-André, Histoire de l'Afrique du Nord, des origines à 1830, Payot 1931, p.196
  4. Quintella, 1839, p.163.
  5. C.E. Bosworth, The New Islamic dynasties, p.42 Edinburgh University Press 1996. ISBN 978-0-231-10714-3.