Corpo de frações

Seja ( A , + , ) {\displaystyle (A,+,*)} um anel. Sob que condições podemos construir uma extensão ( B , + , ) {\displaystyle (B,+,*)} que seja um corpo? Se a resposta for afirmativa, B será chamado de um corpo de frações de A.[1]

De modo geral, ( B , + , ) {\displaystyle (B,+,*)\,} é um corpo de frações do anel ( A , + , ) {\displaystyle (A,+,*)\,} quando B for um corpo, e contiver um sub-anel A' isomórfico a A.[1] Quando B existe (mais abaixo estão enumeradas as condições para sua existência) podemos dizer que B é o corpo de frações de A, porque qualquer outro corpo de frações de A será isomórfico a B.

Construção

A construção do corpo de frações a partir de um anel é muito semelhante à construção dos números racionais a partir dos números inteiros.[1]

Como ( B , + , ) {\displaystyle (B,+,*)} é um corpo, temos que a multiplicação é comutativa. Então, em ( A , + , ) {\displaystyle (A,+,*)} , a multiplicação também deve ser comutativa.

Como B não pode ter divisores de zero, segue que A também não pode ter divisores de zero.

Para que A seja um subconjunto de B, deve ser possível representar cada elemento de B como uma divisão de elementos de A. Uma condição suficiente para isso é que a multiplicação em A tenha elemento neutro 1.

As três condições acima (anel comutativo, sem divisores de zero, e com elemento neutro multiplicativo) caracterizam um domínio de integridade.

Como os elementos de B tem a forma a 1 a 2 {\displaystyle {\frac {a_{1}}{a_{2}}}\,} para a 1 A a 2 A a 2 0 {\displaystyle a_{1}\in A\land a_{2}\in A\land a_{2}\neq 0\,} , vamos iniciar a construção de B pelo conjunto de pares ordenados A × A = A × ( A { 0 } ) {\displaystyle A\times A^{\star }=A\times (A-\{0\})\,} .[1]

Define-se, em A × A {\displaystyle A\times A^{\star }} :

( a , b ) + ( c , d ) = ( a   d + b   c , b   d ) {\displaystyle (a,b)+(c,d)=(a\ d+b\ c,b\ d)}
( a , b ) ( c , d ) = ( a   c , b   d ) {\displaystyle (a,b)*(c,d)=(a\ c,b\ d)}

Essas operações estão bem definidas, porque A não tem divisores de zero, logo b   d 0 {\displaystyle b\ d\neq 0\,}

Lembrando que a b = c d a   d = b   c {\displaystyle {\frac {a}{b}}={\frac {c}{d}}\iff a\ d=b\ c\,} , temos que considerar em A × A {\displaystyle A\times A^{\star }} a relação {\displaystyle \sim \,} definida por ( a , b ) ( c , d ) a   d = b   c {\displaystyle (a,b)\sim (c,d)\iff a\ d=b\ c\,} .[1]

Prova-se facilmente que {\displaystyle \sim \,} é uma relação de equivalência em A × A {\displaystyle A\times A^{\star }\,} .[1] Além disso, é possível provar que as operações de soma e produto definidas em A × A {\displaystyle A\times A^{\star }\,} estão bem definidas no conjunto quociente A × A {\displaystyle {\frac {A\times A^{\star }}{\sim }}\,} .[1]

A projeção π : A A × A {\displaystyle \pi :A\mapsto {\frac {A\times A^{\star }}{\sim }}\,} definida por π ( x ) = [ ( x , 1 ) ] {\displaystyle \pi (x)=[(x,1)]\,} é um isomorfismo entre A e π ( A ) {\displaystyle \pi (A)\,} .[1]

Finalmente, basta provar as propriedades de corpo para finalizar a construção.

Unicidade

Sejam B e B' dois corpos de frações do anel A, e sejam iA e i'A os isomorfismos de A em, respectivamente, subanéis de B e B' . Considerando então a relação entre B e B' definida por:

R = {   ( b , b ) B × B   |   p , q A ,   b = i A ( p ) / i A ( q ) ,   b = i A ( p ) / i A ( q )   } {\displaystyle R=\{\ (b,b')\in B\times B'\ |\ \exists p,q\in A,\ b=i_{A}(p)/i_{A}(q),\ b'=i'_{A}(p)/i'_{A}(q)\ \}\,}

Basta mostrar que R é uma função bijetiva e um isomorfismo de corpos, e está provada a unicidade (a menos de isomorfismos) do corpo de frações.

Referências

  1. a b c d e f g h D. P. Fahr, Field of fractions [em linha]
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