Série 9300 da CP

Série 9300
Série 9300 da CP
Automotora da Série 9300, parqueada na Estação de Sernada do Vouga
Descrição
Propulsão Diesel-eléctrica
Fabricante NV Allan (Holanda)
Locomotivas fabricadas 10
Tipo de serviço Regional e suburbano
Características
Bitola Bitola métrica (1000 mm)
Performance
Velocidade máxima 70 km/h
Operação
Ano da entrada em serviço 1955
Proprietário atual Comboios de Portugal
Museo Vasco del Ferrocarril
Situação Fora de serviço
Comboio de socorro (9307)
Comboio histórico (9301, 9305 e 9310)

A Série 9300 (9301-9310) refere-se a um tipo de automotora de bitola métrica, que era operada pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e pela sua sucessora, os Caminhos de Ferro Portugueses. As unidades desta série circularam nas Linhas do Vouga, Dão, Porto à Póvoa e Famalicão, Guimarães e Tua, e nos Ramais de Aveiro e Matosinhos.[1]

História

Antecedentes

Em meados da década de 1950, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses iniciou um plano para a substituição da tracção a vapor por automotoras nos serviços de passageiros, especialmente nas linhas estreitas a Norte do Rio Douro, e na Linha do Oeste.[2] Naquela altura, considerava-se que estes veículos seriam de exploração mais simplificada e económica, e que devido à sua maior rapidez e conforto, iriam atrair mais passageiros.[2] Desta forma, encomendou um grande número de automotoras, a serem introduzidas ao serviço nos finais de 1955 ou inícios de 1956.[2]

Automotora 9301 na estação da Trindade, no Porto, em 1965.

Introdução ao serviço

As automotoras desta série foram fabricadas em 1954, na cidade de Roterdão, pela companhia holandesa NV Allan.[3][4] Foram planeadas para ser uma versão de via estreita das automotoras da Série 0300, fornecida pela mesma empresa.[3][4] Chegaram a Portugal em 1955, para complementar a reduzida frota de automotoras de via estreita da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que nessa altura era composta essencialmente pelas unidades da Série 9100, sendo os restantes serviços efectuados por composições traccionadas por locomotivas a vapor.[1] No caso da Linha do Tua, o propósito era substituir as automotoras ME 7 e 8, cuja reduzida capacidade era insuficiente para a procura.[5] A primeira automotora chegou a Bragança por volta das 13 horas do dia 3 de Setembro, com um atrelado, numa viagem de experiência.[5] Foi conduzida por Júlio dos Prazeres Pereira, e transportava os engenheiros António Monteiro e Celso Vasconcelos, da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, e outros dois engenheiros holandeses, representando o fabricante.[5]

Dois dias depois, realizou-se uma nova experiência, na qual a automotora seguiu com vários convidados a bordo, incluindo o director geral da Companhia, Roberto de Espregueira Mendes, e dois representantes da NV Allan, até à Estação de Tua, com uma interrupção para almoço em Macedo de Cavaleiros.[5] Ambas as experiências foram bem sucedidas.[5] Assim, em 16 de Outubro de 1955 a série entrou oficialmente em serviço, tendo a sua primeira linha sido a do Tua.[6] Ainda no mesmo ano, também começaram a circular nas linhas do Porto à Póvoa e Famalicão, Guimarães e no Ramal de Matosinhos.[3][1] Devido à sua rapidez e comodidade para os passageiros, revelaram-se excelentes para este tipo de serviços suburbanos.[1]

Em 1975 as automotoras que estavam nos serviços suburbanos do Porto foram transferidas para a rede ferroviária do Vouga, na sequência da sua reabertura, em 1 de Junho, após cerca de três anos de encerramento.[1] Esta medida foi em parte justificada pela introdução de comboios rebocados por locomotivas da Série 9000 nas linhas métricas do Porto.[1] Nos inícios na década de 1980, as unidades que estavam na Linha do Tua foram substituídas pelas automotoras da Série 9700, tendo sido igualmente colocadas no Vouga.[1]

Remotorização e fim dos serviços

Unidade 9307 a servir como comboio de socorro, na estação de Sernada do Vouga em 2006.

Na década de 1980, todas as unidades desta série foram alvo de extensos trabalhos de remodelação nas Oficinas de Guifões, que incluíram a reformulação dos interiores e dos exteriores,[1] e a introdução de novos motores a gasóleo, da marca Volvo.[7] Após esta intervenção continuaram a circular nas linhas do Vouga, onde nos princípios da década de 1990 foram também introduzidas novas séries de automotoras.[1] Foram abatidas ao serviço entre 2001 e 2002.[4]

A 9301 foi vendida em 2007 ao Museu Vasco del Ferrocarril,[8] conservando o esquema de cores e o logótipo da operadora Caminhos de Ferro Portugueses.[4] Esta aquisição teve duas finalidades: ampliou o âmbito do museu ao território português, ao expor um exemplar de uma série que foi possivelmente a mais significativa na tracção a gasóleo no país, e possibilitou a realização de comboios históricos nas épocas de menor procura, uma vez que os seus custos de exploração eram mais reduzidos, em relação aos comboios rebocados por locomotivas a vapor.[8] Nessa altura, previa-se que esta automotora fosse fazer parte dos comboios históricos organizados pelo Museu, entre Azpeitia e Lasao.[3]

A 9307 foi convertida numa composição de socorro, enquanto que a 9310 foi preservada.[3][4] Nos princípios da década de 2020, as automotoras 9305 e 9310, que se encontravam em Sernada do Vouga, já tinham sido enviadas para Guifões, no sentido de serem alvo de trabalhos de restauro.[9] Esta intervenção foi feita no âmbito de um programa da operadora Comboios de Portugal para recuperar o material circulante de maior valor patrimonial, após o sucesso dos comboios históricos do Vouga.[10]

Pormenor dos logótipos da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e da fabricante holandesa NV Allan, na automotora 9306.

Descrição

Esta série era composta por dez automotoras de bitola métrica,[11] numeradas de 9301 a 9310, embora originalmente ostentassem a numeração de MEy301 a 310.[1] São muito semelhantes às suas congéneres da Série 0300, de bitola ibérica, embora com um desempenho mais fraco, devido às limitações da via métrica.[12] Além das unidades motoras a série também incluía vários reboques,[13] utilizados nos serviços de maior procura.[1] As composições eram formadas por uma ou duas motoras, com ou sem um reboque.[12]

A propulsão das unidades motoras era assegurada por dois motores AEC de 200 cavalos a diesel, e a energia eléctrica, por quatro motores de 80 cv.[1] A frenagem era efectuada por um sistema misto de ar comprimido e vácuo de funcionamento eléctrico e manual na motora, e só a vácuo no reboque.[1] Podiam atingir uma velocidade máxima de 70 quilómetros por hora, embora inicialmente, por motivos de ordem técnica, a sua velocidade tenha sido limitada a 50 quilómetros por hora.[6] O esquema de cores original, azul com uma faixa vermelha, foi alterado para a pintura vermelha e branca na década de 1970, semelhante à então utilizada pelas composições da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, tendo alguns dos veículos também ostentado uma decoração em azul escuro com faixas vermelhas.[1]

Cada unidade possuía capacidade para 32 passageiros sentados em terceira classe, e 12 na secção de primeira classe.[1] Cada automotora incluía dois lavabos, situados no centro, e uma pequena divisão para bagagens.[1] Cada um dos oito atrelados dispunha de 68 lugares sentados na terceira classe, não dispondo de um local próprio para bagagens.[1] A iluminação era eléctrica, e o aquecimento nas motoras era feito a partir do sistema de circulação de água para o arrefecimento dos motores, enquanto que nos reboques era utilizada uma caldeira com um aparelho de ar quente pulsado.[1]

Apesar da sua excelente fiabilidade, tendiam a pender demasiado nas curvas e a incendiar-se, o que causou alguns acidentes, como o Desastre Ferroviário de Custóias, em 26 de Julho de 1964, no qual a unidade número 9309 descarrilou numa curva da Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, tendo-se incendiado em seguida, ou a destruição da 9302 num acidente na Linha do Tua.[1]

Ficha técnica

  • Características de exploração
    • Ano de construção: 1954[4]
    • Entrada ao serviço: 1955[6]
    • Natureza do Serviço: Linha[5]
    • Número de automotoras: 10 (9301-9310)[3][14]
  • Dados gerais
    • Bitola de Via: 1000 mm[1]
    • Comprimento total: 18,5 metros[4]
    • Tipo de tracção: Gasóleo (diesel)[14]
  • Transmissão de movimento
    • Tipologia: Eléctrica[4]
  • Motores de tracção
    • Potência total: 538 kW[14]
    • Velocidade máxima: 70 km/h[14]
  • Lotação
    • Motora
      • Sentados:
        • Primeira classe: 12[14]
        • Terceira classe: 32[14]
    • Reboque
      • Sentados:
        • Terceira classe: 68[14]

Lista de material

legenda; contagem
: qt. estado
110✔︎
1 ao serviço
750⏭︎
1 vendida, no estrangeiro
880✖︎
2 demolidas
990❔︎
6 em estado desconhecido
10(total)
: a observações
9101
750⏭︎
[quando?] Adquirida pelo Museu Vasco del Ferrocarril.[3][4][8]
9102
880✖︎
1978~ Destruída num incêndio na Linha do Tua, no final da década de 1970.[1]
9103
990❔︎
9104
990❔︎
9105
990❔︎
9106
990❔︎
9107
110✔︎
2006.08 comboio socorro[15]
9108
990❔︎
9109
880✖︎
1964 Destruída no Desastre Ferroviário de Custóias, em 26 de Julho de 1964.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v AMARO, Jaime (2005). «Automotoras Allan de Via Estreita - Meio Século de Existência». O Foguete. Ano 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 8-10. ISSN 124550 Verifique |issn= (ajuda) 
  2. a b c «Companhia dos Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 68 (1622). 16 de Julho de 1955. p. 227. Consultado em 21 de Maio de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  3. a b c d e f g «Breves». Via Libre (em espanhol). Ano 44 (506). Madrid: Fundación de los Ferrocarriles Españoles. Março de 2007. p. 59. ISSN 1134-1416 
  4. a b c d e f g h i NUNES, Rui (23 de Outubro de 2008). «Automotoras». Transportes XXI. Consultado em 14 de Outubro de 2010 
  5. a b c d e f «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 68 (1627). 1 de Outubro de 1955. p. 353. Consultado em 21 de Maio de 2012 
  6. a b c «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. ano 68 (1632). 16 de Dezembro de 1955. p. 497. Consultado em 21 de Maio de 2012 
  7. «Grupo Oficinal do Porto». Maquetren (em espanhol). Ano 3 (27). Madrid: A. G. B., s. l. 1994. p. 41. ISSN 1132-2063 
  8. a b c «Breves». Via Libre (em espanhol). Ano 44 (513). Madrid: Fundación de los Ferrocarriles Españoles. Novembro de 2007. p. 36-40. ISSN 1134-1416 
  9. «O que (não) se passa na Linha do Vouga?!». Notícias de Aveiro. 10 de Junho de 2023. Consultado em 6 de Abril de 2014 
  10. «Salvem o Comboio Histórico do Vouga!». Movimento Cívico da Linha do Vouga. 22 de Março de 2024. Consultado em 6 de Abril de 2014 
  11. REIS et al, 2006:188
  12. a b «Allan Série 9300». Movimento Cívico da Linha do Vouga. Consultado em 31 de Março de 2014 
  13. «Concurso Fotografico». Maquetren (em espanhol). Ano 4 (32). 1995. p. VIII 
  14. a b c d e f g «CP withdrawn narrow gauge stock» (em inglês). Railfaneurope. 8 de Janeiro de 2022. Consultado em 14 de Outubro de 2010 
  15. Nuno Morão (14 de Agosto de 2003). «Estação de Sernada do Vouga, 2006.08.18». Flickr. Consultado em 4 de novembro de 2022 

Bibliografia

  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre a Série 9300

Ligações externas

  • «Página com fotografias da Série 9300, no sítio electrónico Railfaneurope» (em inglês) 
  • «Fotografia da automotora 9301, exposta no Museu Vasco del Ferrocarril, no sítio electrónico Flick» 
  • «Página sobre a Série 9300, no sítio electrónico Trainlogistic» 


  • v
  • d
  • e
Material motor ferroviário em Portugal
Tipologia ↓ diesel / gasolina / gasogénio vapor:
carvão / óleo
elétrica:
IP: 25 kV / 50 kHz ou (*) 1500 V; outras redes q.v.
← Tracção
Estado → em serviço fora de serviço (ou uso ocasional) em serviço Bitola
Rede IP (Notas: A itálico, séries com uso partilhado entre a C.P. e outras empresas, simult. ou não; a itálico sublinhado, séries usadas exclusivamente por outra empresa.)
automotoras 592 remodelados M1 0050 0100 0500 0750 0600 0650 1001 Z1 2000 2050 2080



ABm1-18

remodelados 2300 2400 3400 3500 4000 1668 mm
(ibérica)
VIP
0350
0450
0300
0400
 2100⎫ 
2150⎬ 
2200⎭ 
⎰*3100
⎱*3200

2240

3150*
3250*
9630 9500
 
9700─╮
9400←╯
ME1 ME21 9050 9100 9300 9600 (Vale do Lima) (não existe atualmente tração elétrica na rede ferroviária métrica da IP) 1000 mm
(métrica)
locomotivas 9000 9020 Lydya
E1 E21 E31 E41 E51 E61 E71 E81 E91 E101 E111 E121 E131 E141 E151 E161 E181 E201 1-2
1200 1400 1500 1520 1900 1930 6000 1300 1320 1550 1800 1960
D. Luiz S. Inauguração 001 01 1 09 011 17 021 21 031 32 41 041 41 070 71 81 91 101 103 110 141 151 175 181 0151 0181 0201 201 211 221 261 281 291 301 351 401 501 551 601 701 751 801 831 851 951 2068 01002 1008 2000 02012 02049 2133 51 (BA) 11 (CFE)
2500 2550 3300* 2600 2620 4700 5600 1668 mm
(ibérica)
locotratoras 1150 1000 1020 1050 1100 005
Redes locais (excl. sistemas de frota fixa específica, como funiculares e teleféricos)
bondes
STCP101 STCP112 STCP115 STCP120 STCP150 STCP249 STCP250 STCP266 STCP300 STCP350 STCP404 STCP500
STCP200 STCP270 STCP280 1435 mm
(padrão)
automotoras ML7 ML79 ML90 ML95 ML97 ML99 ML200
LRVs, articulados MP000 MP100 MP200 C000
CCFL501 CCFL601 900 mm
bondes TUB1
CCFL203 CCFL283 CCFL284 CCFL323 CCFL343 CCFL363 CCFL389 CCFL400 CCFL403 CCFL475 CCFL500 CCFL508 CCFL532 CCFL552 CCFL601 CCFL613 CCFL736 CCFL761 CCFL801 CCFL806 CCFL901 TUB01
CCFL001 CCFL003 CCFL005 CCFL541 CCFL701 CCFL737
(PdV-VdC) (CCFTNA) (CFPLER) SMTUC01 SMTUC03 SMTUC16 (CSA) 1000 mm
(métrica)
locomotivas CSA 23074 (Pomarão)
(Transpraia) (P.d’El-Rei) (Mira) (CFPL) 600 mm
(JAPH) N0(JAPPD) 2140 mm
Estado → em serviço fora de serviço em serviço Bitola
Tipologia ↑ diesel / gasolina / gasogénio vapor:
carvão / óleo
elétrica ← Tracção
Ver também: Linhas • Serviços • Empresas • Multimédia • Acidentes